quinta-feira, 16 de julho de 2009

Ser mulher: uma tomada de posição!

Sempre que o dia 08/março chega começamos a receber mensagens, textos, intenções melosas em homenagem à mulher. Tudo muito bonito, tocante, emocionante. Mas... o que está por trás disso? Gostaria de, como mulher nascida há 44 anos, convidar você leitor a refletir comigo – não importa se concordando ou discordando, mas refletindo! Além do comércio que gira em torno destas datas criadas (o que até se justifica), me preocupa a idéia inserida nessas homenagens à mulher. Afinal, não há o dia do homem ou o dia do ser humano...
Com esse apelo para se homenagear a mulher, solidifica-se a idéia daquele ser que, apesar de frágil, gera os filhos, é mãe dedicada, esposa primorosa, filha gentil e, ainda, muitas delas trabalharam fora para ajudar a reforçar o orçamento da família! Nossa, quanto apelo! Há alguns anos escrevi um artigo falando sobre “A Mulher e o Retorno aos Estudos” – totalmente inspirado em minha vivência durante alguns anos como professora de cursos superiores de licenciatura no CEUNSP. Eu falava sobre a dificuldade da maioria das minhas alunas em retornarem aos bancos escolares apesar de serem mães e esposas... Grandes batalhadoras aquelas meninas – pena que nem todas conseguiram chegar ao final de seus cursos, infelizmente.
Hoje, mais madura, vou mais além: quem foi que disse que o comportamento, estudo, carreira, decisão, atitude, vontade, revolta, braveza, são sentimentos exclusivos aos homens? Não concordo com as mulheres que ficam recitando frases feitas, implorando direitos iguais aos dos homens. Não é esse o caminho. Homem é homem e mulher é mulher. A mulher é sim um ser muito bonito, esteticamente falando, é vaidosa e não precisa abrir mão disso para ser livre! O que não considero correto é atribuir à mulher uma fragilidade que não existe, é conservar regras e preconceitos absolutamente ultrapassados. Eu, mulher atuante durante o século XXI, não fui consultada por aqueles que instituíram tais regras às quais acham que tenho que me submeter! Portanto, se não opinei, não me responsabilizo e conseqüentemente sinto-me no direito de seguir ou não tais regras. Eu decido e arco com as conseqüências de todo e qualquer ato praticado, como qualquer outro cidadão.
Por que é considerado estranho ou até inadequado o fato da mulher querer ir sozinha a este ou àquele local? Por que ela precisa ficar passivamente sentada nos salões de baile, esperando ser notada e convidada a dançar por algum cavalheiro? Por que ela não pode tomar a iniciativa, não só no salão de baile, mas também para passear com um amigo, por exemplo? Por que é que os homens podem flertar abertamente e ela não? Afinal, se ela assim agir, poderá ficar “falada”... Uma boa moça deve estar sempre bonitinha, arrumadinha, mas limitar-se a ser passiva e a não chamar a atenção. Por quê? Um homem charmoso e perfumado pode e até deve se fazer presente, deixar-se notar, mas a mulher não. Ele pode “fazer a corte”, mas a mulher não. Quanto mais discreta e respeitosa à opinião masculina, melhor será seu julgamento!
Em casa, se as tarefas forem divididas, considera-se o homem como “bonzinho” por ajudar a mulher. Por que “ajudar” se os dois moram na casa? Neste ponto, estou falando das milhares de mulheres que trabalham fora e que se culpam por pensarem que têm que dar conta da casa e dos filhos ao voltarem do trabalho. O casamento (oficial ou não) é nada mais, nada menos do que uma “república” onde pessoas decidem morar juntas. Cada um precisa desempenhar a sua função naquela pequena sociedade instituída. Evidentemente, se ela não trabalha fora, sua função é mesmo a de cuidar da casa e dos filhos. Do contrário, não! Por outro lado, por que é que a maioria das mulheres define o fato de trabalhar fora como sendo algo que se justifica pela necessidade financeira e não pelo prazer de se realizar e de construir uma carreira, ou então pelo orgulho e satisfação de sustentar e manter uma família?
É historicamente explicado o fato da passividade e da fragilidade (aliás, ela aprendeu que quanto mais frágil e dependente for, mais atraente será para o chamado sexo forte). Fomos educadas lendo fábulas recheadas de príncipes e princesas, de heróis masculinos que sempre chegavam para salvar as frágeis mocinhas, num final sempre feliz! É cascata! A vida não é assim como num conto de fadas. Para os homens, foi vendida a imagem de que eles serão sempre os mantenedores da casa, tendo o dever de serem vencedores e de manterem (principalmente economicamente) suas famílias. Afinal, eles são os heróis! Errado. Não é assim. Não pode ser. O homem também é frágil, inseguro, também necessita de afeto e compreensão. Ele é um ser humano que não pode, do mesmo modo, se render a tantas exigências a ele impostas.
Concluindo, não gosto da separação que há entre direitos e deveres de homens e mulheres. Prefiro os direitos e deveres dos seres humanos em geral, independente de sexo, idade, cor, religião ou time de futebol!
É verdade que muitas mulheres acomodaram-se em suas funções tradicionais e se aproveitam disso - exigindo mimos por exemplo - sem perceberem que com essa atitude reforçam preconceitos dos quais elas mesmas são vítimas! Portanto, já é hora de uma tomada de decisão. Se optarmos pela fragilidade, não poderemos reclamar mais tarde de não termos nossas opiniões respeitadas. Se optarmos pela independência, não se importando com o que dizem ou deixam de dizer a nosso respeito, teremos que arcar com o peso que tantas outras célebres mulheres já suportaram muito antes de nós – Simone de Beauvoir, Chiquinha Gonzaga, Tarsila do Amaral, Anita Garibaldi, Pagu e até mesmo Elis Regina, por exemplo, de quem sou fã, além das heroínas desconhecidas espalhadas pelo mundo afora!
Somos fortes, criativas, podemos e devemos ter e expressar desejos, alegrias, tristezas. Podemos e devemos conduzir nossas vidas da forma como acharmos correto, de acordo com a consciência e valores de cada uma de nós. Quem foi que disse que uma mulher deve segurar uma relação amorosa nitidamente destruída, só para que se conserve a família, mesmo que ela passe o resto da vida infeliz, insatisfeita, de mau com o mundo e, o que é pior, criando filhos num ambiente hostil? Sou mãe de dois filhos maravilhosos, divorciada, vivo com meus pais. Trabalho desde os 18 anos de idade, fiz curso superior e duas pós-graduações. Cumpro com meus deveres éticos, morais e civis. Pago minhas contas, respondo por minhas atitudes, a quem seja de direito. Orgulho-me da carreira construída de cabeça erguida. Coleciono amigos, divirto-me com a vida!
Apenas para ilustrar e finalizar: Lembrei-me hoje de minha avó paterna, nascida no final do século XIX e que se orgulhava em contar que havia chocado a sociedade dos anos 30 quando decidiu ser a primeira mulher a cortar os cabelos na Ilha da Madeira – Portugal. Parece mentira, não é? Entretanto, devemos olhar para a sociedade atual e pensar se aquilo que não aceitamos hoje em dia por puro preconceito, será motivo de risadas nas próximas gerações...
Bem, parece que o espírito de assumir posições e de não ter medo do que pensa a sociedade está em minhas veias, com muito orgulho!

Nenhum comentário:

Postar um comentário