sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Meu filho só quer ganhar: nasceu vencedor?



Não! Não nasceu vencedor! A criança que só quer ganhar, que não aceita a derrota, é a criança mal acostumada, mimada, educada para um mundo que não existe! Mas então, será que estou dizendo para educarmos perdedores? É claro que não também! No artigo de hoje, desenvolvo a idéia de formarmos seres humanos bem preparados, competitivos, honestos, leais, prontos para atuarem na sociedade de forma muito mais desenvolvida do que temos hoje.
Quando o filho é ainda bebê, há um discurso inevitável: “você é o mais lindo do mundo, o mais esperto, já sabe tudo!” – frases ditas diretamente à criança e a outras pessoas, na frente da criança. É realmente inevitável, é uma forma de expressão – exagerada, é verdade, mas ainda assim não conseguimos nos controlar. Sabemos que ele não é o mais lindo DO MUNDO, etc, mas nos expressamos assim, por empolgação, por amor! Quando não são guardadas as devidas proporções, o que acontece com o passar do tempo é que a criança, ainda pequena, não sabe discernir o exagero do real e como acredita em tudo que seus pais dizem, realmente passa a se considerar a mais linda do mundo, mais esperta, mais engraçadinha, mais inteligente etc. Precisamos nos lembrar que o excesso corrompe o caráter, a moral. Vaidade ou bens materiais em excesso podem sim corromper a personalidade de nossos pequenos, ainda em formação.
Dentro deste quadro, é fácil imaginar a criança que resulta: egoísta, soberba(*) e, o que é ainda mais preocupante: não mede esforços para ganhar, aconteça o que acontecer (mesmo que para isso precise ludibriar alguém). Na situação em questão, o resultado NÃO é o de uma criança autoconfiante! A criança que tem autoconfiança se expõe, esforça-se por conseguir atingir seus objetivos, mas considera sobretudo a capacidade do outro. Na prática, por exemplo, para ficar mais claro: num simples jogo de dominó, os pais acham engraçadinho que a criança queira sempre ganhar e então eles, os pais, sempre perdem para que a criança experimente o prazer de ganhar. Modificam regras de acordo com a vontade do filho, tudo para facilitar e garantir esse desejo “inato” de ser sempre o vencedor.
Pois bem, essa criança não experimenta o prazer pela dedicação, aperfeiçoamento e especialização, da prática para a conquista final, não aprende a se esforçar por algo que deseje muito. Deixa de aprender que o outro pode ser tão bom ou melhor do que ele e que, assim, deverá sempre estar em busca da eficiência pessoal. Como? Perdendo! Perdendo e aprendendo a fazer a análise posterior, descobrindo onde e porque errou e perdeu e qual a estratégia que deverá ser utilizada para que seja o vencedor na próxima oportunidade. A frustração serve para isso: para a auto análise, especialização e escolha de estratégia futura! Reconhecer que não é sempre o melhor leva à busca pelo desenvolvimento justo e honesto. Quem respeita o outro, respeita também a si mesmo.
Finalmente, um outro ponto fundamental a ser tratado é a possibilidade do mundo desmoronar quando fatalmente, algum dia, a criança perder em uma competição, ou não tirar a nota mais alta da classe. O sentimento da culpa, misturado ao da derrota, da incapacidade, da frustração, ficam potencializados e causam muito mais trauma do que se a criança aprender que ninguém é 100% do tempo o melhor em tudo! Esta tem sido a condição de “ser” humano: buscar a perfeição, já que se reconhece imperfeito!
(*) Soberba é o sentimento negativo caracterizado pela pretensão de superioridade sobre as demais pessoas, levando a manifestações ostensivas de arrogância, por vezes sem fundamento algum em fatos ou variáveis reais. O termo provém do latim superbia.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Bater ou não bater: eis a questão!


Muitas vezes tenho sido perguntada a esse respeito e hoje vou tentar desenvolver o assunto de modo a esclarecer a maioria das dúvidas que a mim chegam quase que diariamente: a questão sobre bater ou não nos filhos desobedientes!
É comum ouvirmos alguns pais dizerem que antigamente as crianças apanhavam muito e eram bem mais educadas. Concordo! Eram mesmo! Segundo o senso comum, eram mais obedientes e comportadas. Tinham mais convívio com os pais, que passavam valores de respeito (às vezes de medo), de disciplina e responsabilidade. Nossa sociedade como um todo era muito mais bem educada. Portanto, antigamente, o que colocava a criança na linha não era apanhar e sim o respeito em si, exigido, cobrado, mas antes de tudo, ensinado! Hoje, nossa sociedade está corrompida por valores materiais, onde o “ter” vale muito mais do que o “ser”; onde a impunidade corre solta, onde os pais se sentem culpados por trabalharem fora e estarem ausentes e então compensam os filhos com mimos e agrados materiais. Pais permissivos, já que ausentes; que contratam babás e especialistas de toda ordem, terceirizando o trabalho de educar... Me desculpem, mas devo tocar na ferida; do contrário, não faria sentido o artigo. Obviamente que estou me referindo a uma parcela bastante privilegiada da população; entretanto, guardando-se as diferenças, não é diferente com as classes mais baixas, que lançam mão de outros artifícios para suprir a ausência, deixando o resultado idêntico. A falta de respeito em casa tem sido cada vez mais ocorrente, diante de uma sociedade que cobra, pressiona, fazendo com que pais cheguem em casa já estressados, sem cabeça para mais nada.
Enfim, o quadro todo, atualmente, é bastante desrespeitoso e agressivo. Isto, sem falar da impunidade, do mundo perfeito que se mostra às crianças, criadas na maioria das vezes dentro de cúpulas de cristal, como se o mundo todo, para sempre, fosse se curvar às suas vontades. Tudo isso gera intolerância, gera exigências, mimos, discórdia. Antigamente, como se vê, apesar de os pais baterem em seus filhos, todo o contexto ajudava muito positivamente na formação do caráter do indivíduo. Portanto, atribui-se erroneamente o crédito das crianças terem sido mais educadas no passado por terem apanhado!
Feita a introdução, vamos ao ponto inicial, que é o “bater ou não bater” hoje em dia:
Minha resposta? NÃO! Não bater! EDUCAR, SIM! Sou partidária das correntes educacionais que defendem o desenvolvimento do raciocínio lógico da criança, levando a autonomia moral e social. Não acredito no “bom” comportamento baseado na chantagem ou no medo. Mesmo que aparentemente dê resultados, estes serão falsos, já que a criança não foi levada a pensar, a escolher e a decidir por este ou aquele comportamento. Desse modo, numa próxima vez, poderá agir mal novamente!
Constance Kamii, analisando a obra de Jean Piaget (Juízo Moral na Criança) é bastante clara com relação a isso. Uma criança pega em flagrante fazendo algo errado, se punida com a dor, poderá, numa próxima vez, mentir ou omitir, mas dificilmente deixará de agir assim por sua própria decisão. Por outro lado, se for levada a escolher entre uma atitude boa ou má, se souber claramente quais são as regras e, no caso de não cumpri-las, quais são as conseqüências de seu ato, nunca mais esquecerá como agir corretamente e terá sempre a sensação de ter escolhido, decidido sozinha! Importante salientar que as regras não podem ser variáveis: ou é SIM ou é NÃO. Ou pode, ou não pode, sempre e não de vez em quando!
Quando os pais batem, ensinam agressão! Ensinam que se alguém fizer algo errado, não será perdoado, não terá oportunidade de defesa ou de arrependimento, já que a surra e a dor vieram de todo jeito. Fará assim também com seus amiguinhos na escola, causando problemas irremediáveis futuramente. Aprenderá a agredir. Não aprenderá a analisar regras, a se esforçar por se adequar, a conversar a respeito de erros, não aprenderá a se arrepender. Aprenderá a punir. Apenas isso, sem conscientização nenhuma. Aprenderá a dissimular, a mentir, a ser cada vez mais esperto para não ser pego de surpresa na próxima vez.
Mas, sendo assim, o que fazer? Limite é uma das palavras! Regras claras, consciência de que nossa liberdade não pode ferir a do outro, etc. Firmeza ao chamar a atenção dos filhos: muitos pais fazem verdadeiros sermões, praticamente implorando atitudes corretas de seus filhos. Sermões longos são chatos, ninguém presta a atenção e perdem a força por si mesma. Ao chamar a atenção, não se pode perder o foco e quanto mais simples forem as palavras e frases, tanto melhor! Voz grave, seriedade no semblante, clareza de idéias e pronto! Nada de voz maciazinha, mostrando medo, culpa ou insegurança naquilo que se fala. Também nada de agressividade, de xingamento, escândalo. Se quisermos crianças que respeitem, devemos antes de mais nada respeitá-las! Não se trata dos problemas com brigas, gritos, ameaças e muito menos com chantagem emocional. Trata-se com clareza e possibilidade de ajuda, além da correção do erro. Somos modelo aos nossos filhos; eles irão repetir com os outros, pela vida a fora, exatamente o que tiverem em casa.
Não gosto da conotação “castigo” como forma de sanção – diferente de punição, que dá a idéia da agressividade ou abuso de poder falada acima. Usaremos então o termo sanção, definido por Piaget: “as sanções por reciprocidade salientam a ruptura do vínculo social pelo mau comportamento de uma criança.” Ou seja, para fazer parte ou ter o direito de participar de uma atividade ou de um determinado grupo, deve-se estar adequado a eles; do contrário, não será aceito, não poderá pertencer ao grupo, ou da atividade. Isto é muito diferente de colocar no cantinho para pensar... “Se você quiser pertencer, participar, deverá ser assim. Do contrário, não poderá ficar aqui.” Ou então, “ é sua decisão ficar ou não. Você não é obrigado a nada...” Do mesmo modo, perder certos direitos caso não se comporte conforme esperado ou ganhar certos privilégios por merecimento. Neste ponto, é importante que se diga que não se negocia o bom comportamento. Dá-se a idéia de que tudo na vida tem conseqüências – boas ou más. Retribuir com bens materiais é a pior idéia que se pode ter. O ideal é o reconhecimento, o afago, o abraço orgulhoso, a palavra de carinho como forma positiva de incentivo ao bom.
Pretende-se assim, dar sempre a opção de escolha à criança: “Você tem um brinquedo e pode ou não cuidar dele. Caso cuide, estarei convencida de que você já é grandinho para ter outros e poder brincar em várias situações, etc. Caso não cuide, terei que retirá-lo de circulação, pois você ainda precisa aprender a cuidar de suas coisas.” Pronto, simples assim. Sem escândalos, sem dramas. É justo, não? A vida é assim: tudo tem conseqüências – boas ou más!
Vamos tentar lembrar que o grito, a agressão, a surra, é o argumento de quem não tem argumento! Sejamos éticos e tenhamos filhos ainda melhores e mais centrados!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A "Lei de Gerson" para crianças!


Estranho o título, não? Mas é exatamente o que quero discutir, refletir hoje com você, leitor! Tenho observado muito a forma como nossas crianças têm sido educadas, como nós, adultos, temos nos comportado e cheguei à conclusão de que a “Lei de Gerson” ainda está muito em uso em nosso país, apesar de toda a evolução através dos anos, uma vez que a força, piada ou fama dessa “lei” seja dos anos 70! Para os que não a conhecem, vale uma definição: é a forma “esperta” de ser e de agir, não se importando com o outro, é a forma de levar vantagem em tudo, não importa se passando por cima de alguém...
Pois bem, exemplificando a minha observação, vamos tentar visualizar quantos carrinhos de supermercado estamos acostumados a ver largados nos estacionamentos, ocupando vagas de carro? Quantas pessoas furando descaradamente as filas? E as filas duplas de carros estacionados indevidamente? Ultrapassagens irresponsáveis na estrada? Isto, sem falar nas negociações e atitudes mais reprováveis que vemos por aí, todos os dias...
Esses adultos que agem assim, hoje, foram educados por alguém quando crianças – escola e família! Foram esses os valores passados e rapidamente absorvidos... uma pena! O Brasil é um país imenso, maravilhoso, com uma capacidade humana, riqueza natural e possibilidades econômicas invejáveis, mas tão mal aproveitadas... ou melhor, muito bem exploradas por muito poucos... É muito fácil criticar o governo – governo esse, formado por cidadãos tão brasileiros como nós, eleitos pelo povo brasileiro... é de se pensar, ou não?
Voltando às crianças, refiro-me à base, visando uma educação que tenha a intenção de formar cidadãos melhores, que constituam uma sociedade mais desenvolvida no futuro. Entretanto, não tenho visto essa preocupação real nas escolas ou nas famílias. É normal para as crianças furarem a fila, passando na frente dos coleguinhas, ou não esperar por sua vez de falar, ganhar o jogo espiando o colega, buscando explicações fantasiosas para justificar seus próprios erros, não se desculpando por falhas cometidas ou então se desculpando “da boca prá fora”. São milhares de exemplos no dia-a-dia!
Agora, a minha questão: porque é que ainda não nos preocupamos e agimos com relação a esse tipo de educação? Porque nós também fomos criados para a competição, para ganhar a qualquer custo! Competir é muito saudável, mas ser honesto é ainda mais! Ter respeito e consideração pelos semelhantes, também! Vencer por mérito próprio é que tem valor. Do contrário, é a Lei de Gerson falando mais alto.
Muitos de nós criticamos deliberadamente o nosso país, nossos políticos, mas sem parar para pensar no quanto fizemos até agora para alterar a ordem das coisas. Somos coniventes, desde que não nos incomode ou prejudique!
Nosso país tem um descaso absurdo com a educação do povo, injusta e elitista, que não dá as mesmas oportunidades a todos e, assim, sem acesso às mesmas informações, o sucesso no futuro certamente não será o mesmo. Essa educação segrega, potencializa a intolerância com o diferente (desde portadores de necessidades especiais, até os portadores de diferenças sócio-econômicas, estéticas, humanas). Assim, formamos adultos intolerantes e sem respeito pelo outro.
Nós realmente não nos importamos em ocupar a vaga do estacionamento com um carrinho de supermercado: o “outro” que tire, se quiser estacionar... Como almejar algo mais evoluído, se o próprio professor larga a lousa suja, toda escrita, sem se preocupar em deixá-la limpa como a encontrou, para que o colega da próxima aula a utilize? Como lidar com pais que fazem fila dupla na porta da escola, sem se incomodar com o trânsito ou a segurança dos pedestres?
O Brasil tem uma formação histórica bastante complicada, mas isso já foi há mais de 500 anos! Temos sim uma diversidade cultural que pode e deve ser utilizada a nosso favor, absorvendo o que houver de melhor em cada cultura!
É hora de colocarmos a mão na consciência e refletirmos sobre o que temos feito até agora para colaborar com a situação da qual somos as próprias vítimas e sobre o que temos feito para garantir uma sociedade mais evoluída no futuro, que seja justa e honesta!
É nossa responsabilidade! Criticar já é um grande passo, mas agir é o que importa! Em nosso dia-a-dia, em nossa casa, na escola, em todos os lugares que frequentarmos – isso, sem falar no poder do voto consciente, é claro! Não adianta nada criticar “o outro” e não agir. O que adianta é a auto-análise, é a mudança de atitude JÁ, nos menores detalhes!
Finalmente, o que adianta é excluir de uma vez por todas a “Lei de Gerson” da educação de nossas crianças! Sejamos competitivos, saibamos lutar por nossos direitos, mas saibamos, antes de mais nada, respeitar o direito e a liberdade de ação e pensamento do outro!
Para saber mais: Segue a Lei de Gérson a pessoa que "gosta de levar vantagem em tudo", no sentido negativo de se aproveitar de todas as situações em benefício próprio, sem se importar com questões éticas ou morais. A expressão originou-se em uma propaganda, de 1976, para os cigarros Vila Rica, na qual o meia armador Gérson da Seleção Brasileira de Futebol era o protagonista. http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_G%C3%A9rson

domingo, 2 de agosto de 2009

O mundo que apresentamos às nossas crianças


Tenho me preocupado muito com esse tema e, por isso, vou sair um pouco fora do assunto dos últimos artigos, que falam sobre o planejamento da educação dos filhos. Na verdade, está tudo interligado, já que provém das mesmas reflexões. Espero conseguir fazer com que o leitor reflita a respeito, concordando ou não com o texto.
Minha convivência profissional sempre foi com crianças de uma classe social privilegiada e, portanto, é com a educação delas que mais me preocupo. Vejo crianças sendo educadas por pais bastante zelosos em termos de cuidados, tanto no aspecto social e emocional, quanto de saúde e educação. Entretanto, questiono o que é que se tem feito quanto à tolerância em geral.
Vivemos em uma sociedade de classes e a escola, da forma como é constituída, potencializa essa divisão. O país, como um todo, divide as pessoas em boas e más, de acordo com suas próprias verdades, ou melhor, de acordo com as verdades de cada classe social. A religião é outro fator preponderante nessa seleção. O tema é bastante amplo, mas quero me deter às crianças, ou à sua educação.
Na ânsia por fazer o melhor aos filhos, os pais acabam dando a impressão de que tudo o que é diferente é ruim, ou então, que o mundo funciona “redondinho”, que sempre tudo acontece ao seu tempo e à sua vontade. Para dar a melhor educação, dá-se a impressão de que a criança deve ser perfeita, deve acertar sempre, dar o melhor de si. Verdade! A criança deve mesmo se esforçar ao máximo e mais um pouco, mas deve saber também que nem sempre conseguirá ser a melhor em tudo ou do que todos! O importante é desenvolver em nossos pequenos o prazer pela dedicação, determinação em fazer tudo muito bem feito, em dar o melhor de si, mas sabendo que os outros também o farão e que nem sempre somos vencedores – aqui, falamos da tolerância consigo mesmo! Não se trabalha, normalmente com os pequenos, o respeito pelos outros, que podem ou não ser melhores do que eles e que hoje é assim, mas que amanhã pode ser diferente. Respeito e tolerância, aqui, andam de mãos dadas!
Outro ponto importante é o da tolerância com as pessoas de idéias diferentes das nossas. Se estamos desenvolvendo uma educação baseada no respeito, se pretendemos seres humanos mais tolerantes, precisamos nos preocupar com isso desde a tenra idade de nossos filhos. Aceitar e respeitar não significa mudar nossas idéias ou costumes, mas garantir ao outro seu pensamento, modo de vida e valores. Segundo Voltaire, “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las." Se assim o fizermos, possibilitaremos às crianças, maior convivência e conhecimento com todo tipo de pessoa, de grupo social, de cultura, preparando-os verdadeiramente para o futuro, para quando estiverem na Universidade, ou em seu mundo profissional, em seu país ou em outro qualquer. O importante é que saibam que todas as pessoas têm seu valor e importância na sociedade e que não somos nada para julgar quem quer que seja, e que inclusive, agindo desse modo, estaríamos abrindo a possibilidade de sermos também duramente julgados...
Vejo ainda pais bastante preocupados com as frustrações que seus filhos possam passar durante a vida. Assim, poupam-nos de toda e qualquer frustração, desde a mais simples. Resultado? Formação de seres humanos intolerantes com qualquer coisa ou pessoa que esteja fora do esperado por ele/ela; despreparo para lidar com situações difíceis do dia-a-dia, desequilíbrio emocional frente às adversidades, enfim, um ser humano que “não é deste mundo”...
Há países que trabalham muito bem a diversidade cultural e social, a exemplo do Canadá. Com uma educação pública de ponta, permite o mesmo acesso a pobres e ricos, a nativos e imigrantes, aos ditos “normais” ou com “necessidades especiais”, promovendo uma interação social justa e cheia de diferenças. Com isso, o cidadão cresce dentro de uma sociedade heterogênea e se acostuma a isso. Acostuma-se a reconhecer o semelhante e o diferente, acostuma-se a fazer suas escolhas e, principalmente, a respeitar o espaço e o direito do outro!


Estou me referindo a um mundo que apresentamos aos nossos filhos, como se todos fossem absolutamente iguais, tanto em termos de posses materiais, quanto de pensamentos e atitudes. Estou dizendo que nossas crianças precisam saber que não vivemos em uma sociedade justa ou uniforme, que a diferença social/econômica existe, que precisamos respeitar e conhecer todo tipo de diferença e, assim, conscientes, atuar futuramente, de modo a defender um país que respeite seus cidadãos, suas idéias, seus credos. Um país que cumpra seu objetivo maior, que é o de garantir uma condição de vida de respeito e tolerância a todo e qualquer tipo de diferença. E isso começa na tenra idade, com o amiguinho que se comporta diferente e que escolhe uma brincadeira que ele/ela não quer, com o dia de visitar o coleguinha, que não é aquele que ele/ela poderia ir, com o trabalho mais bonito da classe, com o conceito que nem sempre é “A” no boletim, com o auxiliar de serviços gerais de casa que não tem carro (porque poucas pessoas o têm) e chegou atrasado no dia da greve de ônibus, ou teve enchente em seu “barraco”...
Finalmente, estou falando da riqueza que podemos nos dar a chance de encontrar no outro, tão diferente de nós e que pode proporcionar um enriquecimento inestimável ao nosso modo de ser, de pensar e de viver...