sábado, 13 de fevereiro de 2016

Cadê o brinquedo?


              É esta a pergunta que eu tenho vontade de fazer sempre que vejo os pais com seus filhos fora de casa – e em casa também.   A antiga sacola cheia de brinquedos que antes carregávamos ao sair com as crianças, ou o antigo quarto de brinquedos foram substituídos por algo que ocupa muito menos espaço e que dá muito menos “trabalho”:  IPad e/ou telefones celulares.   Ocupa menos espaço físico, dá menos trabalho, porque hipnotiza a criança, que não consegue tirar os olhos do “brinquedo” do século XXI. 
              Fico muito frustrada ao dar-me conta de que, em uma época em que deveríamos ter expandido nosso conhecimento, especialmente no que se refere ao desenvolvimento infantil, ao invés de adicionar (e não substituir) a tecnologia ao mundo de nossos filhos, contribuindo para a abertura e desenvolvimento de novas habilidades, temos serzinhos inocentes sendo manipulados, dominados e consumidos por uma tecnologia que somente limita, vicia e tolhe todas as outras possibilidades.
              Citando Albert Einstein, “Brincar é a mais elevada forma de pesquisa”.  E por “brincar”, nós, educadores, nos referimos a brinquedos, brincadeiras e jogos de manipulação, construção, exploração, imaginação, fantasia, estratégia, desafio, movimento etc.  Evidentemente, a diversão está implícita.  É disso que nossas crianças precisam!  Meios para pesquisarem o mundo à sua volta, para aprenderem a se relacionar e a criarem o seu mundo, através dos seus próprios olhos e não somente dos nossos.
              É assim que acontece:  observação e aprendizagem do que está estabelecido, confronto com o que já se sabe, experimentação, manipulação, tentativa e observação de resultados, criação dos próprios conceitos.  É esse o ciclo.  O brinquedo que brinca sozinho não possibilita esse processo científico.  Possibilita outras...
              Além das explicações técnicas, tenho a minha própria, baseada em pura observação:  a criança que brinca somente com eletrônicos, por exemplo, fica praticamente hipnotizada, não interage socialmente.  Fica alheia ao mundo à sua volta.  Na verdade, isso é um problema que atinge a todos nós, não somente crianças.  Porém, com crianças isso é muito mais preocupante, pelos motivos já mencionados.
              A criança que lê livros de papel, brinca com cubos, quebra-cabeças, joga bola, pula elástico, joga bolinhas de gude, joga ludo, canta e dança com o microfone, monta castelos de areia e usa uma infinidade de brinquedos e brincadeiras, tem amigos, se torna uma criança completa, sociável, e que desenvolve todas as inteligências múltiplas!  Foco, atenção, análise, escolha de estratégia, diversão e relacionamento, são habilidades fundamentais para o bom desenvolvimento do ser humano.  A tecnologia também faz parte desse universo, evidentemente.  Só precisamos evitar os extremos. 
O mesmo se aplica a uma pseudonecessidade de entreter as crianças o tempo todo.  Não!  Eles não precisam de alguém brincando com eles o tempo todo.  Precisam de tempo para desafiarem a eles próprios, precisam de tempo de concentração e de dar asas à imaginação.  Hoje, com monitores nas festas e nas escolas, babás, as crianças ficaram dependentes demais.  Mais uma vez, sem extremismos.  Há os momentos importantes de terem companhia, mas há também os momentos importantes de exploração individual. 
              Desse modo, lanço a campanha “de volta à sacola de brinquedos” quando saímos com nossos filhos!  Aquela sacola imensa que até bem pouco tempo era levada aonde quer que as crianças fossem, para terem com o que brincar...  de volta ao “quarto de brinquedos”, de volta à brincadeira sadia, sem extremismos.  A “babá eletrônica” pode ser utilizada, mas com sabedoria. 
              Para ler mais sobre o assunto:  https://rubemalvesdois.wordpress.com/2012/10/26/1545/