É comum
conversar com pessoas de qualquer idade – principalmente das classes ditas desfavorecidas
– e notarmos que o mais longe que vão com seus sonhos é o de colocarem comida
na mesa e reservarem alguns trocados para uma diversão ocasional. Entretanto, no resto do tempo, satisfazem-se
com a diversão proporcionada pela mídia, joguinhos de celulares bastante
acessíveis, churrasquinho despretensioso etc.
É a política do pão e circo!
Necessidades básicas (pobremente) satisfeitas, para quê pensar a
respeito?
Quantas
vezes presenciamos pais distraindo as crianças, satisfazendo suas vontades,
para encerrarem uma discussão ou não darem maiores explicações sobre o que quer
que seja? Educadores agem assim,
também. “Vai reclamar de quê? Tem boa comida e diversão...”
Assim,
nas próprias escolas não se educa para a independência – de pensamentos e
atitudes. Somos uma civilização de
dependentes – e passivos. Pior: egoístas!
Sim, porque desde que nosso pão e diversão estejam garantidos, não damos
a mínima para o outro.
O
pensamento crítico e a lógica científica se desenvolvem desde os primeiros anos
– na escola e na família. É preciso que
se respeite a capacidade do ser humano. No
Brasil ainda usamos muito a capa de “super-protetores” – o que, na verdade, é a
reprodução da sociedade brasileira desde sempre: manter o controle sobre criaturas não
pensantes, dependentes, amedrontadas e egoístas!
Tudo à
nossa volta é construído e organizado de modo a fazer com que todos se
comportem de maneira bastante semelhante e prevista. Não se tem educado o povo a ser independente
e, portanto, caso haja liberdade, não saberá usar. Liberdade
precisa ser trabalhada e exercitada. Não
podemos confundir com libertinagem e irresponsabilidade.
É
preciso que educadores e pais se conscientizem de que a super proteção nada
mais é do que a manutenção do controle.
Entretanto, segundo Yves de La Taille, ninguém se torna autônomo (independente
de ações e pensamentos) sem ter sido antes heterônomo (dependente de regras e
ensinamentos). Em outras palavras: a criança não nasce sabendo. Alguém precisa dizer-lhe como se comportar,
mas sempre sendo direcionada a
raciocinar sobre fatos e atitudes. Aí
está o grande problema: o que
presenciamos são pais e/ou professores que ou super protegem ou deliberadamente
“largam”. Temos então crianças,
adolescentes, jovens e adultos que - ou são dependentes, passivos, inertes, ou
se acham os donos do mundo, agindo como se todos existissem para seu bel
prazer. Fazem o que querem, a hora que
querem e permanecem impunes.
É neste
ponto que devemos ser muito cuidadosos, pois não podemos, de forma alguma,
permitir que nossas pequenas crianças se tornem “imperadores” da casa –
mandando e desmandando, não respeitando família e escola, etc. Lembrem-se:
até se atingir a autonomia, é necessário passar pela heteronomia. Mal criação e falta de respeito não é
liberdade de expressão!
A
educação para a independência e exercício da liberdade se torna cada vez mais
urgente! Não podemos mais continuar
reproduzindo seres que não percebem o quanto são “distraídos” pela política do
pão e circo. Exagero? Vamos pensar em algumas situações:
·
O adolescente que se satisfaz com jogos de vídeo
game dia e noite, sai para a balada, bebe, se diverte, tem dinheiro no bolso
> ele tem tempo para questionar escola/pais?
Tem interesse? Não! Suas necessidades imediatas estão satisfeitas. Aceita o que vier da escola, finge que
aprende, mas na verdade não precisa ter o menor interesse, já que a vida que
lhe satisfaz está fora dos muros escolares.
Não aprende a participar da comunidade à qual pertence, seja família,
escola ou cidade, país.
·
Quantas esposas infelizes são mantidas por
maridos que lhe garantem “pão e circo” na forma de cabeleireiras e Shopping
Centers? Elas não questionam, estão “felizes”
... e o poder está garantido!
·
Bem básico:
a criança faz birra e os pais oferecem sorvete, distraem-na com um joguinho,
um brinquedo e “não se fala mais nisso”.
Pronto. É o início. Daí prá frente, desde que ela (a criança) se
sinta satisfeita em seus prazeres, não se importa, não questiona, não participa!
·
Séc. XXI e nosso governo ainda compra votos por
meio de cestas básicas e patrocínio de shows (pão e circo). Mesmo para as classes ditas mais esclarecidas,
será que não é a mesma manipulação, mas com cara diferente?
Já é tempo de parar e repensar a
educação que queremos para as futuras gerações!
Chega de nos satisfazermos apenas com pão e circo!
Já é tempo de clamarmos por
nossa verdadeira liberdade de expressão e ação! Já é tempo de termos jovens das escolas
públicas da periferia sonhando com uma vida melhor, que vá além da cesta básica
e bolsa família!