quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

“A política do pão e circo na educação e na vida”

                Surgiu na Roma Antiga com os “jogos” entre gladiadores e distribuição de pão aos desempregados e, acredite ou não, é a política predominante na maioria das situações do nosso dia-a-dia.  Esta é a maneira mais fácil de manter o poder, distraindo-se as massas, mantendo-as razoavelmente entretidas e alimentadas - sem pensamento crítico, independência, questionamento ou revolta.

                É comum conversar com pessoas de qualquer idade – principalmente das classes ditas desfavorecidas – e notarmos que o mais longe que vão com seus sonhos é o de colocarem comida na mesa e reservarem alguns trocados para uma diversão ocasional.  Entretanto, no resto do tempo, satisfazem-se com a diversão proporcionada pela mídia, joguinhos de celulares bastante acessíveis, churrasquinho despretensioso etc.  É a política do pão e circo!  Necessidades básicas (pobremente) satisfeitas, para quê pensar a respeito? 

                Quantas vezes presenciamos pais distraindo as crianças, satisfazendo suas vontades, para encerrarem uma discussão ou não darem maiores explicações sobre o que quer que seja?  Educadores agem assim, também.  “Vai reclamar de quê?  Tem boa comida e diversão...”

                Assim, nas próprias escolas não se educa para a independência – de pensamentos e atitudes.  Somos uma civilização de dependentes – e passivos.  Pior:  egoístas!  Sim, porque desde que nosso pão e diversão estejam garantidos, não damos a mínima para o outro.

                O pensamento crítico e a lógica científica se desenvolvem desde os primeiros anos – na escola e na família.  É preciso que se respeite a capacidade do ser humano.  No Brasil ainda usamos muito a capa de “super-protetores” – o que, na verdade, é a reprodução da sociedade brasileira desde sempre:  manter o controle sobre criaturas não pensantes, dependentes, amedrontadas e egoístas!

                Tudo à nossa volta é construído e organizado de modo a fazer com que todos se comportem de maneira bastante semelhante e prevista.  Não se tem educado o povo a ser independente e, portanto, caso haja liberdade, não saberá usar.   Liberdade precisa ser trabalhada e exercitada.  Não podemos confundir com libertinagem e irresponsabilidade.

                É preciso que educadores e pais se conscientizem de que a super proteção nada mais é do que a manutenção do controle.   Entretanto, segundo Yves de La Taille, ninguém se torna autônomo (independente de ações e pensamentos) sem ter sido antes heterônomo (dependente de regras e ensinamentos).  Em outras palavras:  a criança não nasce sabendo.  Alguém precisa dizer-lhe como se comportar, mas sempre sendo direcionada  a raciocinar sobre fatos e atitudes.  Aí está o grande problema:  o que presenciamos são pais e/ou professores que ou super protegem ou deliberadamente “largam”.  Temos então crianças, adolescentes, jovens e adultos que - ou são dependentes, passivos, inertes, ou se acham os donos do mundo, agindo como se todos existissem para seu bel prazer.  Fazem o que querem, a hora que querem e permanecem impunes. 

                É neste ponto que devemos ser muito cuidadosos, pois não podemos, de forma alguma, permitir que nossas pequenas crianças se tornem “imperadores” da casa – mandando e desmandando, não respeitando família e escola, etc.  Lembrem-se:  até se atingir a autonomia, é necessário passar pela heteronomia.  Mal criação e falta de respeito não é liberdade de expressão!

                A educação para a independência e exercício da liberdade se torna cada vez mais urgente!  Não podemos mais continuar reproduzindo seres que não percebem o quanto são “distraídos” pela política do pão e circo.  Exagero?  Vamos pensar em algumas situações:

·         O adolescente que se satisfaz com jogos de vídeo game dia e noite, sai para a balada, bebe, se diverte, tem dinheiro no bolso > ele tem tempo para questionar escola/pais?  Tem interesse?  Não!  Suas necessidades imediatas estão satisfeitas.  Aceita o que vier da escola, finge que aprende, mas na verdade não precisa ter o menor interesse, já que a vida que lhe satisfaz está fora dos muros escolares.  Não aprende a participar da comunidade à qual pertence, seja família, escola ou cidade, país.

·         Quantas esposas infelizes são mantidas por maridos que lhe garantem “pão e circo” na forma de cabeleireiras e Shopping Centers?  Elas não questionam, estão “felizes” ...  e o poder está garantido!

·         Bem básico:  a criança faz birra e os pais oferecem sorvete, distraem-na com um joguinho, um brinquedo e “não se fala mais nisso”.  Pronto.  É o início.  Daí prá frente, desde que ela (a criança) se sinta satisfeita em seus prazeres, não se importa, não questiona, não participa!

·         Séc. XXI e nosso governo ainda compra votos por meio de cestas básicas e patrocínio de shows (pão e circo).  Mesmo para as classes ditas mais esclarecidas, será que não é a mesma manipulação, mas com cara diferente?   

Já é tempo de parar e repensar a educação que queremos para as futuras gerações!  Chega de nos satisfazermos apenas com pão e circo! 

Já é tempo de clamarmos por nossa verdadeira liberdade de expressão e ação!   Já é tempo de termos jovens das escolas públicas da periferia sonhando com uma vida melhor, que vá além da cesta básica e bolsa família!

4 comentários:

  1. Obrigada, mas gostaria de poder agradecer "nominalmente"! Meu email é gisellefernandes2@hotmail.com. Abraço!

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  2. Adorei. Concordo plenamente, mas sei como é duro e difícil agir assim no mundo de hoje.

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  3. Concordo plenamente, porém sei como é dificil nos dias de hoje exercer esse raciocínio. Encontramos barreiras em todas as direçoes!

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