sábado, 2 de outubro de 2010

“O essencial é invisível aos olhos” em O Pequeno Príncipe

É incrível como Antoine de Saint-Exupéry soube falar de sentimentos e de vínculos em sua obra mundialmente conhecida! E como se mostra a nós, diariamente. Tive, esta semana, uma experiência que já vinha acontecendo há algum tempo, mas que se materializou exatamente ontem, 6ª. feira! Recebi uma linda florzinha de jardim de um garotinho de 4 anos e, em seguida, um cartão todo pintado por ele e com as letras, todas misturadas e significando nossos nomes: o meu e o dele! Tudo isso acompanhado de abraço e beijo, vindos de uns olhinhos azuis irresistíveis!

Mas o que eu quero salientar aqui, é o vínculo, é o “tornar-se responsável por aquilo que cativas”, é o tornar-se importante para alguém! Isso tudo, em minha profissão, dirigindo escolas! Tarefa difícil? Não para com as crianças que têm olhos de ver! Olhos puros, capazes de enxergar o essencial que os adultos muitas vezes não enxergam. Tenho diariamente manifestações como esta, mas ontem, mais sensibilizada, o garotinho me emocionou!

Em minha função, diariamente trabalho colocando limites nos procedimentos das crianças e com este, em particular, precisei ser bastante firme durante seu período de adaptação, quando ele sofria desde os 2 aninhos para separar-se de seus pais ao ficar na escola, mesmo sabendo o quanto a escola seria divertida e quantos amigos seriam seus companheiros durante o período em que lá estivesse! O interessante é que ele, hoje, está sempre buscando meu olhar, para o qual recebo em contrapartida, um sorriso e um brilho nos olhos que são sua marca registrada! Ele tinha muita vontade de conseguir ficar na escola, mas não conseguia isso sozinho! Precisava de uma mão forte a conduzi-lo, a dar-lhe a segurança que tanto necessitava! E ele conseguiu! É um vencedor!

Decidi relatar isso, para discutir mais uma vez a importância de sermos “guias” de nossas crianças! Eles querem e precisam disso. Só não sabem demonstrar. Ser firme, olhar nos olhos deles limitando, mas ao mesmo tempo dizendo com nosso olhar que os amamos, que acreditamos neles, que sabemos que aquilo é possível a eles de ser feito! As crianças precisam não só dos limites e das direções a serem seguidas, mas também de nossa demonstração de confiança, de amor e de segurança! Mais ou menos como se disséssemos: “Vá em frente, te amo e sei que você consegue! Você é capaz! Não há perigo, confie em mim!” Isso tudo é sentimento que não se expressa muitas vezes em palavras, mas no olhar, no toque, naquilo que não está verbalizado e que só a criança, pura, inocente e sensível consegue enxergar, sentir, perceber!

Para tanto, mais do que simplesmente “gostar de criança” como se gosta de um bonequinho, é preciso estar envolvido e compromissado com o desenvolvimento do ser humano, é preciso ser apaixonado pela educação como um todo, é necessário sentir-se responsável por “crescer” uma criança de modo a deixá-la livre, independente, feliz, emocionalmente equilibrada e bem resolvida consigo mesma e nos relacionamentos sociais que irá levar para toda sua vida! É preciso que a criança confie em si, aprenda a se conhecer em suas habilidades e necessidades, fraquezas, assim como ser flexível para conquistar esse mundão aí fora!

Com a modernidade, passou-se a idéia de que crianças são bonequinhos bonitinhos, absolutamente dependentes e incapazes de serem felizes sem nossa interferência, bobinhos e manipuláveis! Criança nenhuma gosta de se sentir assim! São lindos, é verdade, mas nem por isso deixam de ser Seres Humanos no mais pleno desenvolvimento! São muito mais capazes do que nós! Perdem a sensibilidade por culpa nossa! Sempre gostei de ouvir a opinião das crianças sobre diversos assuntos – experimente!

O que quero dizer, é que se torna essencial que passemos a ter um olhar de respeito para com os seres humanos ditos “crianças”! É preciso que voltemos a ser seus gurus, seu porto seguro para onde eles possam voltar sempre que necessário, mas que não deixemos de ser aqueles incentivadores responsáveis e seguros do que estamos fazendo e do que é certo ou errado, possível ou impossível para eles, para nós!

Já é tempo de deixarmos de subestimar a inteligência e capacidade infantis! Eles são seres prontos para assumirem responsabilidades, para terem discernimento, para buscarem ajuda quando necessitam! Não estou falando de abandono para que eles encontrem seus caminhos! Estou falando de acompanhamento responsável, sem que a liberdade e a própria natureza possam agir a favor de nossos pequenos! Afinal, “o essencial é invisível aos olhos”! Quanto ao “meu” garotinho, serei eternamente responsável por aquilo que cativei, mesmo antes da florzinha do jardim (e que não é a rosa)!

Site oficial do “Pequeno Príncipe”: http://www.opequenoprincipe.com/

"Toda pessoa grande foi criança um dia... Mas poucas se lembram disso"