segunda-feira, 24 de maio de 2010

Faça o que eu digo E o que eu faço!


Não é de hoje e nem eu sou a única educadora a afirmar que nossas crianças aprendem com os nossos exemplos, com os nossos procedimentos! E mais ainda, durante a chamada 1ª. Infância, que vai até os 6 anos de idade. Pois bem, então a frase que diz “faça o que eu digo, mas NÃO faça o que eu faço” não funciona na educação infantil! Ou seja, aquilo que vemos pais, educadores ou familiares fazendo de errado, anti-ético, inoportuno, será copiado e feito sim pela criança!


Em primeiro lugar, como para a criança o exemplo concreto, visto, vivenciado ou ouvido pela criança é muito mais fácil de ser gravado e é tido para ela como modelo, ela irá reproduzir com certeza! Mesmo que não o fosse, de nada adiantaria dizer “a mamãe faz assim, mas você não!” já que não faria sentido algum! “Porque não posso fazer, se a mamãe faz? Ela é o meu modelo, ela sabe tudo, porque não devo copiá-la? Afinal, em outros momentos, a mamãe olha prá mim e diz “veja como a mamãe faz para que você aprenda!” – interessante, não? Vamos tomar como exemplo a mentira. A criança ouve o pai mentir para alguém e quando o questiona, recebe essa resposta descabida, dizendo que mentiras são para “gente grande”, que sabe quando e como usá-las. É evidente que a criança irá aprender a mentir!

Precisamos começar a levar a educação mais a sério, deixando de delegar somente à escola essa tarefa – até porque a escola exerce uma influência importante sobre a criança, mas em comparação com a influência da família, acaba sendo muito pequena. Educadores nas escolas e todos os outros adultos que convivem com a criança são também responsáveis pela boa formação, evidentemente, mas a família ainda é e sempre será o centro de tudo, o maior exemplo que fará parte das raízes, da construção da base e da personalidade da criança. Vivo no meio da educação há mais de 20 anos e estas observações são produto da vivência com os mais variados casos.

A partir do momento em que decidimos ter um filho, nossa postura passa a ter um comprometimento muito maior do que antes. Não é isso que temos notado. Pais, muitas vezes despreparados para a formação de um outro indivíduo (temporariamente criança, mas rapidamente adulto), agem de maneira irresponsável no sentido da formação moral e ética de seus filhos. Alimentar, vestir e educar não é assumir a responsabilidade pela educação do filho! Educação é muito mais do que isso!

Quando digo “pais”, dirijo-me ainda à família estendida desta vida moderna: babás e avós que “cuidam” das crianças! “Será que essas outras pessoas, que influenciam diretamente meu filho, estão seguindo a mesma linha de educação que nós, pais?” Será que já nos perguntamos isso?

Babás despreparadas e avós que desautorizam os pais são bastante comuns! Até que ponto nos preocupamos em orientar as babás quanto a educação que desejamos para nossos filhos? Afinal, quem de fato acaba criando boa parte das crianças são elas! Quais são os exemplos que a babá irá dar à criança?

Avós que já criaram seus próprios filhos, dificilmente acatam a decisão sobre a educação dos netos e acabam se tornando permissivos ou anti-éticos desautorizando, por exemplo, os pais na frente da criança. Será que os pais têm essa preocupação ou até mesmo abertura com os avós para que sigam também a linha de educação escolhida por eles? A comida não é o único alimento da criança! A roupa não é o único acessório, já que alimento e acessório da personalidade são construídos, dia após dia, durante o desenvolvimento infantil.

Uma avó que critica a nora ou o genro, por exemplo, que mente aos pais para aliviar erros do neto, ou que exige postura rígida dos pais, enquanto a sua mesma é permissiva, deixa a criança confusa e sem respeito ou admiração por seus próprios pais! Familiares que resolvem as coisas no grito estão ensinando a criança a gritar para resolver seus problemas! E pior: depois punem essa mesma criança que só teve como modelo o rancor e o desrespeito!

Soluções? Não há manual de instruções, nem livro de receitas, mas diálogo, respeito, ética podem ser um ótimo começo! Análise crítica da postura assumida até aqui e tomada de decisão: (*) já que a criança será “criada” por babás ou avós, que estes façam parte da decisão quanto a educação dos filhos! (*) como tem sido o procedimento, enquanto pais, com relação a respeito e ética? As ações e reações que tenho mostrado ao meu filho são as mesmas que desejo que ele reproduza? (*) tenho conduzido meu filho (neto, sobrinho, aluno) na direção de uma sociedade ética, justa e respeitosa? (*) quanto tempo do meu tempo eu dedico a me informar e aprender sobre a formação do caráter do meu filho? (*) posso dizer abertamente que desejo que meu filho literalmente “faça o que eu digo E o que eu faço?”

Há uma frase de autor desconhecido que eu quero deixar ao leitor, como convite à reflexão: "todo mundo está pensando em deixar um planeta melhor para nossos filhos. Quando que pensarão em deixar filhos melhores para nosso mundo"?

Voltaremos ao assunto em breve!

domingo, 9 de maio de 2010

Meu filho está rebelde: e agora?


“Estar” é muito diferente de “Ser”! Portanto, para começarmos nosso bate-papo, vamos pensar que uma criança “está” e não “é”, naturalmente, rebelde.
A rebeldia nada mais é do que uma estratégia da criança para conseguir o que quer. Assim como o choro, a chantagem emocional, entre outras. Como estratégia, sabemos não ser justa e muito menos ética. É apelação! Portanto, está nas mãos de todos os responsáveis pela educação da criança, fazê-la compreender que não é atitude correta. O primeiro passo é não ceder à rebeldia! Não se assustar com os gritos, com o fato de se jogar no chão, ou outras atitudes semelhantes. Se funcionar, dificilmente conseguiremos mostrar à criança que deverá extinguir esse comportamento. Quando digo “funcionar”, quero dizer “ceder” à rebeldia, atender aos gritos, choro, escândalo.
É bastante difícil no dia-a-dia, especialmente se a rebeldia já for constante. O ideal mesmo é cortar o mal pela raiz. No primeiro grito, com a criança ainda bem pequena, não ceder a esse apelo nada ético - mas sempre há tempo! Ignorar a atitude imprópria de rebeldia é fundamental! A criança se joga no chão, grita, chora? Apenas garanta que não se machuque e a ignore! Deixe que se acalme e que perceba que não tem sua atenção dessa maneira. Ninguém suporta ficar gritando ou se debatendo no chão sem motivo; ou seja, sem que chame a atenção de ninguém! Num segundo momento, retome, mostrando à criança que o diálogo em tom respeitoso de voz é que fará com que você lhe dispense atenção. Entretanto, mesmo com o diálogo, não ceda aos caprichos se não forem justos! Afinal, espera-se que o adulto tenha discernimento e responsabilidade para usar seu poder de decisão. Lembre-se que o grito é o argumento de quem não tem argumento! Isso, inclusive entre nós, adultos! Quantas vezes não nos deparamos com adultos que utilizam a chantagem, a agressão, o desrespeito, sem nenhum argumento plausível? Cabe a nós, que temos contato com as crianças e que somos, enquanto pais e educadores, responsáveis pela formação da criança, mostrarmos a ela que deverá sempre ponderar muito bem, ser justa, honesta, ética e aí sim acumular argumentos suficientes para defender seu ponto de vista, mas sempre levando em consideração o outro!
Quando digo que uma criança não “É” rebelde, quero dizer que ninguém nasce sabendo utilizar nem essa, nem qualquer outra estratégia para satisfazer suas vontades! Aprende-se! Fica-se rebelde em determinadas situações e, inclusive, com determinadas pessoas! A criança sabe muito bem com quem funciona ou não a rebeldia! Quem tem ou não medo de sua atitude; ou melhor, quem se intimida com seus gritos e escândalos ou não. Vemos isso até mesmo entre crianças muito pequenas com 1 ano de idade! Se corrermos a atendê-la no primeiro grito, automaticamente irá se acostumar a isso, fazendo da rebeldia uma prática constante.
Até aqui, me referi a crianças criadas em famílias ditas “normais”, com rebeldia evidente na primeira infância ou até um pouco mais. Evidentemente que uma criança proveniente de uma família onde vê constantemente seus próprios pais gritando e se desrespeitando, humilhando empregados, brigando com tudo e com todos, utilizando chantagens e outras estratégias egoístas e desrespeitosas, essa criança será sim (e, neste caso, podemos dizer que ela “É”) rebelde, sendo que dificilmente alguém conseguirá que tenha um comportamento diferente em sua vida. Não estou falando também de crianças abandonadas, indesejadas ou mal tratadas. Para todos esses casos, nosso olhar é outro e não vem ao caso neste artigo.
Voltando à nossa criança padrão do texto, uma outra dica é exercer autoridade sobre o filho, sem que seja abuso de poder ou autoritarismo, mas autoridade. Alguém, na família, precisa ser líder da situação, até mesmo porque a criança sente essa necessidade. Então, no caso da criança estar rebelde, o ideal é que se fale firmemente com ela – por exemplo, na hora do banho: “Está na hora do banho, venha agora!” - com o verbo no imperativo, mas com voz branda, respeitosa. Não implore para que a criança tome banho. Ela sentirá sua fraqueza, seu medo em não ser atendido e utilizará a rebeldia com certeza, pois já sabe que irá funcionar! Você deu a deixa ao “pedir, implorar” para que tomasse banho. E aí, quando o adulto percebe que perdeu o controle da situação e não será atendido, acaba por também utilizar os gritos e desrespeito como resposta à criança: a mãe se descabela, grita, diz que não agüenta mais e assume, perante a criança, que não sabe o que fazer e que está mais fragilizada do que a própria criança! Ou então, apela para “comprar” comportamentos adequados ou a bater, etc. Tudo descontrolado, literalmente!
Percebo muito medo dos pais para estabelecerem limites (assunto de outros artigos passados e futuros) ou para assumirem suas lideranças na família – e professores, para assumirem a liderança na escola. De onde vem esse medo? Não faz sentido! Passamos de um autoritarismo absoluto para uma permissividade absurda e muitas vezes fica difícil para a criança saber quem é que sabe das coisas para que ela possa se apoiar, aprender, crescer! Desde que haja respeito, os limites precisam ser colocados! A educação, a formação do ser humano precisa acontecer e isso ainda é tarefa da família, lembrando sempre que todos representam o modelo que será seguido por nossas crianças e que NÃO cabe, em educação, a frase “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço!” Ela fará SIM o que fizermos! A criança aprende e reproduz o que vê, ouve, sente, vivencia! Portanto, vamos enfatizar mais as estratégias de diálogo, respeito, ética, pensar no outro, etc, etc!