É esta a
pergunta que eu tenho vontade de fazer sempre que vejo os pais com seus filhos
fora de casa – e em casa também. A antiga sacola cheia de brinquedos que antes
carregávamos ao sair com as crianças, ou o antigo quarto de brinquedos foram
substituídos por algo que ocupa muito menos espaço e que dá muito menos
“trabalho”: IPad e/ou telefones
celulares. Ocupa menos espaço físico,
dá menos trabalho, porque hipnotiza a criança, que não consegue tirar os olhos
do “brinquedo” do século XXI.
Fico
muito frustrada ao dar-me conta de que, em uma época em que deveríamos ter
expandido nosso conhecimento, especialmente no que se refere ao desenvolvimento
infantil, ao invés de adicionar (e não substituir) a tecnologia ao mundo de
nossos filhos, contribuindo para a abertura e desenvolvimento de novas
habilidades, temos serzinhos inocentes sendo manipulados, dominados e
consumidos por uma tecnologia que somente limita, vicia e tolhe todas as outras
possibilidades.
Citando
Albert Einstein, “Brincar é a mais
elevada forma de pesquisa”. E por
“brincar”, nós, educadores, nos referimos a brinquedos, brincadeiras e jogos de
manipulação, construção, exploração, imaginação, fantasia, estratégia, desafio,
movimento etc. Evidentemente, a diversão
está implícita. É disso que nossas
crianças precisam! Meios para
pesquisarem o mundo à sua volta, para aprenderem a se relacionar e a criarem o
seu mundo, através dos seus próprios olhos e não somente dos nossos.
É
assim que acontece: observação e
aprendizagem do que está estabelecido, confronto com o que já se sabe,
experimentação, manipulação, tentativa e observação de resultados, criação dos
próprios conceitos. É esse o ciclo. O brinquedo que brinca sozinho não possibilita
esse processo científico. Possibilita
outras...
Além
das explicações técnicas, tenho a minha própria, baseada em pura
observação: a criança que brinca somente
com eletrônicos, por exemplo, fica praticamente hipnotizada, não interage
socialmente. Fica alheia ao mundo à sua
volta. Na verdade, isso é um problema
que atinge a todos nós, não somente crianças.
Porém, com crianças isso é muito mais preocupante, pelos motivos já
mencionados.
A
criança que lê livros de papel, brinca com cubos, quebra-cabeças, joga bola,
pula elástico, joga bolinhas de gude, joga ludo, canta e dança com o microfone,
monta castelos de areia e usa uma infinidade de brinquedos e brincadeiras, tem
amigos, se torna uma criança completa, sociável, e que desenvolve todas as
inteligências múltiplas! Foco, atenção,
análise, escolha de estratégia, diversão e relacionamento, são habilidades fundamentais
para o bom desenvolvimento do ser humano.
A tecnologia também faz parte desse universo, evidentemente. Só precisamos evitar os extremos.
O mesmo se aplica a uma
pseudonecessidade de entreter as crianças o tempo todo. Não!
Eles não precisam de alguém brincando com eles o tempo todo. Precisam de tempo para desafiarem a eles
próprios, precisam de tempo de concentração e de dar asas à imaginação. Hoje, com monitores nas festas e nas escolas,
babás, as crianças ficaram dependentes demais.
Mais uma vez, sem extremismos. Há
os momentos importantes de terem companhia, mas há também os momentos
importantes de exploração individual.
Desse
modo, lanço a campanha “de volta à
sacola de brinquedos” quando saímos com nossos filhos! Aquela sacola imensa que até bem pouco tempo
era levada aonde quer que as crianças fossem, para terem com o que
brincar... de volta ao “quarto de
brinquedos”, de volta à brincadeira sadia, sem extremismos. A “babá eletrônica” pode ser utilizada, mas
com sabedoria.
Para
ler mais sobre o assunto: https://rubemalvesdois.wordpress.com/2012/10/26/1545/