Não,
infelizmente não existe mágica ou pílula milagrosa para se resolver problemas
de aprendizagem e/ou comportamento. Também,
como já ouvi muitas vezes, os filhos não nascem com manual de instrução. Qual é o caminho, então, para todos que
desejam acertar, amar muito os filhos, fazê-los felizes, etc?
Estas e outras são questões muito
complexas, mas que podemos tentar abordar neste espaço, ao menos para estimular
a curiosidade e o pensamento, fazendo com que possamos nos estender
posteriormente.
Antes de mais nada: pais e mães jamais irão acertar 100%. Não são perfeitos, ninguém o é. São sim, cheios de amor para dar e com as
melhores intenções. Portanto, vamos
trabalhar com isso, já sabendo que ninguém é perfeito, que dúvidas, erros e
acertos fazem parte também do crescimento adulto. O mais importante é a consciência de que
temos muito a aprender, de que precisamos ser humildes e buscar ajuda e
conhecimento – neste caso, para a educação e desenvolvimento dos filhos. Existem fontes riquíssimas à nossa volta;
basta procurar e selecionar as de qualidade, evidentemente. Especialistas à disposição, livros, artigos,
websites, vídeos, enfim, basta querer se aprofundar. Na verdade, conforme o leitor poderá acompanhar
comigo neste texto, a busca pelo conhecimento adequado é a única saída, já que
realmente não existem soluções milagrosas.
São 30 anos de profissão em contato
com pais de alunos e o que observo, no geral, é que existe uma expectativa dos
pais em relação aos filhos, de que estes se enquadrem aos padrões
existentes. Qualquer diferença, por
menor que seja, assusta. E assusta
porque é sem dúvida muito mais fácil ser “normal”, no sentido de estar dentro
da linha da normalidade da maioria.
Existem, evidentemente, padrões que servem para que tenhamos um ponto de
partida. De partida, mas não de
chegada! Seu filho é diferente? Diferente como, quanto, como? Muitas vezes é uma vantagem ser diferente!
Colocando em termos mais práticos e
bastante frequentes: pensando em uma
criança de 06 anos, matriculada no 1º ano do Ensino Fundamental > uma
simples dificuldade de concentração na atividade de casa, por exemplo, pode ser
encarada pelos pais através de vários diferentes pontos de vista:
1)
A
criança tem muitas atividades durante a semana toda, fora do horário escolar, e
está exausta! Ou imatura,
despreparada.
2)
Ele
está infeliz na escola, o sistema é excessivamente rígido, não oferece
oportunidade de descontração e não estimula o prazer dos alunos em aprender. Os outros alunos podem ser mais fáceis na
adaptação e submissão, mas seu filho está dando um alerta: essa escola não me estimula! (ele é simplesmente mais esperto!)
3)
Os
pais não participam ou se interessam pela vida escolar dele. A criança não tem estímulo em casa, pais
ausentes, nada desperta prazer na criança, muito menos sua atenção, interesse
ou concentração. Ela “foge” para o DVD e
vídeo game, em seu mundinho virtual e particular. A única forma de chamar a atenção para si é
dando problema na escola e assim, atraindo a atenção dos pais.
4)
A
criança tem problemas de audição e/ou visão.
5)
Eliminando
todas as hipóteses acima, a criança de fato apresenta dificuldades de
aprendizagem e/ou atenção.
Pois
bem, seja qual for o problema, recorre-se a um especialista que, sendo sério e
eficiente, irá primeiramente pensar em todas as possibilidades antes de
simplesmente diagnosticar a criança como portadora de distúrbios de
aprendizagem. A questão é que sendo ou
não um distúrbio, a família é convidada (intimada) a participar do
tratamento. É aí que entra a frustração
e desespero da maioria dos pais. E por quê? Simplesmente porque assumem esse convite como
uma crítica, como se o especialista estivesse apontando o dedo e lhes mostrando
que não são perfeitos, que precisam mudar a rotina, as atitudes, enfim, há
muito trabalho para se fazer e isso incomoda!
Incomoda porque quando nos tornamos pais, desejamos a perfeição! Queremos estar 100% certos em tudo que
fazemos para e pelos nossos filhos. Ou
seja, não aceitamos críticas, mesmo as construtivas.
Os
pais, na maioria das vezes, acham que com o fato de irem ao especialista, o
problema irá se resolver magicamente.
Não irá! É fundamental a
parceria! Mesmo que tenha sido diagnosticado
um distúrbio, via neuro psicólogo, os pais terão muito o que fazer em
casa, para concluir o tratamento. Em
caso de não ser distúrbio, também.
De
todo modo, a família precisa entender que ela é o primeiro e mais importante
referencial da criança. É lá que o
problema aparece e se resolve! Sem
melindres, sem culpas! Nós,
profissionais, precisamos tanto dessa parceria quanto da ajuda de um
medicamento ou dos exames.
Voltando
ao caso ilustrado acima, os pais são convidados a se aproximar da criança e,
por exemplo, passarem a brincar com seus filhos, utilizando brinquedos e
brincadeiras que tenham como princípio a concentração, a estratégia, a
diversão! Muito diálogo, muita leitura,
música, diversão! Sim, insisto na
diversão! É tratamento, mudança de
atitude, parceria com o próprio filho, mas antes de mais nada é diversão em
conjunto!
O
brinquedo não precisa necessariamente ser “pedagógico”, já que todo e qualquer
brinquedo, por si só, já é pedagógico – afinal, a criança aprende brincando,
experimentando, observando, se divertindo!
Seu filho gosta de carrinhos?
Sente no chão e brinque! Desenhe
uma pista no chão, construa prédios e postos de gasolina com os blocos
lógicos... Ele está enjoado dos
livrinhos infantis? Que tal incorporarem
personagens improvisando fantasias, criando novas histórias a partir de uma do
livrinho? Tenha um espaço como um tanque
de areia em casa, com muitos recipientes de todos os tamanhos. Estimule-o a moldar com areia, faça massinha
em casa, com farinha e água! Mas,
atenção: o mais importante de tudo isso
é o diálogo, a conversa informal durante a brincadeira. É assim que ele irá constituir seu próprio
vocabulário e organização de idéias.
Converse muito com seu filho!
À
mesa, na hora das refeições, ao invés de mandá-lo ficar quieto, direcione a
conversa não somente sobre acontecimentos do dia a dia, mas também sobre a
comida: de onde vem a batata, como é
plantada, quantas cores diferentes ele está vendo na comida, brinque de
soletrar, enfim, libere sua imaginação e participe da vida do seu filho. Esses e muitos outros exercícios podem e
devem ser feitos, independente de “tratamento”.
Lição escrita, formalidade para aprender? Deixe isso com a escola!
Os
pais não têm ideia do quanto podem ajudar em um tratamento com essa mudança de
atitude. Novamente, insisto: não existe pílula milagrosa. Há que se ter paciência e persistência! As crianças agradecem!
Para
entrar no clima: http://revistapaisefilhos.com.br/revista/edicoes/50-brincadeiras