domingo, 2 de agosto de 2009

O mundo que apresentamos às nossas crianças


Tenho me preocupado muito com esse tema e, por isso, vou sair um pouco fora do assunto dos últimos artigos, que falam sobre o planejamento da educação dos filhos. Na verdade, está tudo interligado, já que provém das mesmas reflexões. Espero conseguir fazer com que o leitor reflita a respeito, concordando ou não com o texto.
Minha convivência profissional sempre foi com crianças de uma classe social privilegiada e, portanto, é com a educação delas que mais me preocupo. Vejo crianças sendo educadas por pais bastante zelosos em termos de cuidados, tanto no aspecto social e emocional, quanto de saúde e educação. Entretanto, questiono o que é que se tem feito quanto à tolerância em geral.
Vivemos em uma sociedade de classes e a escola, da forma como é constituída, potencializa essa divisão. O país, como um todo, divide as pessoas em boas e más, de acordo com suas próprias verdades, ou melhor, de acordo com as verdades de cada classe social. A religião é outro fator preponderante nessa seleção. O tema é bastante amplo, mas quero me deter às crianças, ou à sua educação.
Na ânsia por fazer o melhor aos filhos, os pais acabam dando a impressão de que tudo o que é diferente é ruim, ou então, que o mundo funciona “redondinho”, que sempre tudo acontece ao seu tempo e à sua vontade. Para dar a melhor educação, dá-se a impressão de que a criança deve ser perfeita, deve acertar sempre, dar o melhor de si. Verdade! A criança deve mesmo se esforçar ao máximo e mais um pouco, mas deve saber também que nem sempre conseguirá ser a melhor em tudo ou do que todos! O importante é desenvolver em nossos pequenos o prazer pela dedicação, determinação em fazer tudo muito bem feito, em dar o melhor de si, mas sabendo que os outros também o farão e que nem sempre somos vencedores – aqui, falamos da tolerância consigo mesmo! Não se trabalha, normalmente com os pequenos, o respeito pelos outros, que podem ou não ser melhores do que eles e que hoje é assim, mas que amanhã pode ser diferente. Respeito e tolerância, aqui, andam de mãos dadas!
Outro ponto importante é o da tolerância com as pessoas de idéias diferentes das nossas. Se estamos desenvolvendo uma educação baseada no respeito, se pretendemos seres humanos mais tolerantes, precisamos nos preocupar com isso desde a tenra idade de nossos filhos. Aceitar e respeitar não significa mudar nossas idéias ou costumes, mas garantir ao outro seu pensamento, modo de vida e valores. Segundo Voltaire, “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las." Se assim o fizermos, possibilitaremos às crianças, maior convivência e conhecimento com todo tipo de pessoa, de grupo social, de cultura, preparando-os verdadeiramente para o futuro, para quando estiverem na Universidade, ou em seu mundo profissional, em seu país ou em outro qualquer. O importante é que saibam que todas as pessoas têm seu valor e importância na sociedade e que não somos nada para julgar quem quer que seja, e que inclusive, agindo desse modo, estaríamos abrindo a possibilidade de sermos também duramente julgados...
Vejo ainda pais bastante preocupados com as frustrações que seus filhos possam passar durante a vida. Assim, poupam-nos de toda e qualquer frustração, desde a mais simples. Resultado? Formação de seres humanos intolerantes com qualquer coisa ou pessoa que esteja fora do esperado por ele/ela; despreparo para lidar com situações difíceis do dia-a-dia, desequilíbrio emocional frente às adversidades, enfim, um ser humano que “não é deste mundo”...
Há países que trabalham muito bem a diversidade cultural e social, a exemplo do Canadá. Com uma educação pública de ponta, permite o mesmo acesso a pobres e ricos, a nativos e imigrantes, aos ditos “normais” ou com “necessidades especiais”, promovendo uma interação social justa e cheia de diferenças. Com isso, o cidadão cresce dentro de uma sociedade heterogênea e se acostuma a isso. Acostuma-se a reconhecer o semelhante e o diferente, acostuma-se a fazer suas escolhas e, principalmente, a respeitar o espaço e o direito do outro!


Estou me referindo a um mundo que apresentamos aos nossos filhos, como se todos fossem absolutamente iguais, tanto em termos de posses materiais, quanto de pensamentos e atitudes. Estou dizendo que nossas crianças precisam saber que não vivemos em uma sociedade justa ou uniforme, que a diferença social/econômica existe, que precisamos respeitar e conhecer todo tipo de diferença e, assim, conscientes, atuar futuramente, de modo a defender um país que respeite seus cidadãos, suas idéias, seus credos. Um país que cumpra seu objetivo maior, que é o de garantir uma condição de vida de respeito e tolerância a todo e qualquer tipo de diferença. E isso começa na tenra idade, com o amiguinho que se comporta diferente e que escolhe uma brincadeira que ele/ela não quer, com o dia de visitar o coleguinha, que não é aquele que ele/ela poderia ir, com o trabalho mais bonito da classe, com o conceito que nem sempre é “A” no boletim, com o auxiliar de serviços gerais de casa que não tem carro (porque poucas pessoas o têm) e chegou atrasado no dia da greve de ônibus, ou teve enchente em seu “barraco”...
Finalmente, estou falando da riqueza que podemos nos dar a chance de encontrar no outro, tão diferente de nós e que pode proporcionar um enriquecimento inestimável ao nosso modo de ser, de pensar e de viver...

2 comentários:

  1. Olá Gisele, gostei muito das ideias do seu texto.Chamou a minha atenção a sua preocupação com os filhos da classe privilégiada, confesso que esse também é meu foco de pesquisa.Sou estudante de Psicologia,tive uma experiencia interessante no convívio da instituição particular e acredito que todos os envolvido com a educação precisam refletir sobre a realidade da nossa sociedade de classe, assim como construir junto com os "pais zelosos" estrategias para um bom convívio com a diversidade.
    Abraços e boa sorte.Abaixo deixo meu blog,se quiser visitar,fique a vontade. http://socializandopsicologia.blogspot.com/

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    1. Obrigada pela participação, Patrícia! Vou dar uma olhada agora mesmo em seu blog! Muito bom compartilhar ideias! Beijão!

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