sexta-feira, 17 de julho de 2009

Cuidado: consumismo é armadilha!

Era uma vez um menininho de 4 aninhos que queria muito comprar um tênis da marca “XXXX”. Sua mãe o levou à loja e, depois de se garantir que estava na área dos tênis “nacionais”, disse que ele poderia escolher o que quisesse. Feliz da vida, ao sair da loja já calçando o tênis novo, a mãe lhe disse que não estava escrito “XXXX” em seu tênis, mostrando que o que estava escrito não fazia diferença na alegria que sentia com o tênis que escolheu sozinho! Ele então respondeu: “mas posso chamar meu tênis de XXXX?” Pronto! Batizou o tênis e ficou feliz do mesmo jeito!

Inicio o artigo contando esta pequena história verídica, para ilustrar uma preocupação com a formação das nossas crianças. São detalhes aparentemente pequenos, mas que precisam ser discutidos pelos pais, ao estabelecerem o tipo de educação que pretendem dar a seus filhos e que tipo de adulto imaginam que ele seja, no futuro! Não adianta nada, depois dos filhos crescidos, reclamarem de um jovem fútil, que só valoriza as pessoas pelo que têm e não pelo que são, que exige presentes caríssimos e “de marca”.

Devemos sempre nos lembrar que a educação se inicia praticamente no berço! Entretanto, é fundamental que os pais realmente se preparem para a educação das crianças. Precisam falar a mesma língua, defender o mesmo tipo de educação, de valores que pretendem para seu filho.

Evidentemente, a mídia nos envolve e, quando menos esperamos, já fomos também afetados e nos pegamos adquirindo os mais variados produtos “de marca” para nossos filhos. Mas, como pais responsáveis pelo desenvolvimento de nossos filhos, precisamos estar atentos e saber que qualquer atitude impensada pode resultar em uma bela armadilha!

Uma criança habituada a roupas de marca, por exemplo, pode estar aprendendo que só se fica bem com esse tipo de roupa e que quem não usa é “diferente” e irá excluir de sua convivência, independente de ser uma pessoa agradável. Essa criança pode ainda achar que é obrigada a se vestir desse modo para poder ser aceito pelo grupo e, no caso de eventualmente não poder se vestir assim, irá sofrer muito com isso!

Vivemos em uma sociedade já bastante hostil, fútil, superficial, que valoriza muito mais o “ter” do que o “ser e o sentir”... será que estamos colaborando para a permanência e intensificação disso? É nisso que também acreditamos? Somos realmente apenas “embalagens”? Prefiro encerrar deixando as respostas para cada leitor em particular e finalizando com alguns trechos do poema “Eu, Etiqueta” - Carlos Drummond de Andrade, que sugiro que seja lido atentamente e, se possível, na íntegra:

“...e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade...
... Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar,
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo de outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.”

2 comentários:

  1. Giselle, fiquei fã do seu bloguinho. Útil e simpático; elegante e instrutivo. E bonito. (Tô falando do blog, mas no espaço internético você também parece ser assim mesmo).
    Minha sugestão é que os três níveis de "reações" não são adequados, porque o "interessante" parece um nota 5 - bem rasinho - enquanto o "genial" parece um 10 COM LOUVOR. Algo "bestial"como dizem os portugueses, aplicável a obras primas.
    Falta um BOM, no sentido de algo muito bem pensado, bem escrito, que estimula o debate, mas que não esgota o tema nas poucas linhas de um "post".

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