sexta-feira, 17 de julho de 2009

Estou cansado e infeliz!

Tenho hoje 15 anos e me sinto cansado e infeliz! Não tenho amigos, não sei como conquistá-los e mantê-los comigo. Não tenho vontade de ir à escola e me sinto culpado. Quando vou e realizo minhas tarefas, sou inseguro, tenho medo de errar e de me expor. Quero dormir quando não estou na escola e, às vezes, durmo debruçado na própria carteira da escola. Chegando em casa, me alimento compulsivamente, do mesmo modo como quando vou fazer algum passeio e quero adquirir tudo que estiver à minha frente, também de modo desmedido! Nada me satisfaz, sempre tenho um “algo a mais” para comprar! Não gosto de conversar com meus pais, nem com ninguém adulto. Eles estão sempre querendo descobrir coisas a meu respeito, fazem-se de amigos com o único intuito de me criticarem, descobrirem o que não há para ser descoberto. Ando sozinho, me chamam de esquisito. Mudo meus estilos de roupas, jamais consegui concluir um curso – me interesso, mas logo desisto, desanimo. Não tenho a menor idéia da carreira que desejo seguir. Meu pai é Doutor, todos esperam que eu também o seja, mas eu não quero, sei que jamais serei “bom” como ele!

Fiz terapia quase que minha vida inteira e ainda faço, mas nunca resolvi os “meus” problemas. Sempre foram tratados os problemas que meus pais enxergavam em mim. O terapeuta falava, falava, me especulava e depois contava tudo aos meus pais, que jamais mudaram de atitude comigo. Evidentemente, com o passar do tempo, aprendi a dizer apenas o que me interessava que meus pais soubessem. Ao menos, acho que aprendi a fazer uma auto-análise:

Nasci fruto de um casamento bonito, com pais elegantes, inteligentes e muito bem relacionados. Família exemplar, com muitos primos – todos melhores do que eu, é claro. Amigos? Nunca precisei conquistá-los e fazer de tudo para mantê-los. Meus pais cuidavam disso, como cuidavam de todo o resto da minha vida. Eu tinha os amigos que meus pais atraíam para casa – ou por darem discretos presentes, ou passeios fantásticos, guloseimas variadas em casa... não sei. Só sei que nunca me faltaram “amigos”. Entretanto, jamais tive uma amizade duradoura. Em disputas, era sempre eu aquele que tinha razão e, se algum amigo não me agradasse, era só descartá-lo e atrair um outro. Simples assim! Brinquedos, jogos, sempre tive em excesso! Era só pensar e lá estavam todos à minha inteira disposição. Aliás, se meus pais quisessem algo especialmente bem feito de minha parte, era só me darem o preço e então eu fazia o que eles quisessem. Quando criança, a “moeda” era os brinquedos e, hoje, são roupas, celulares novos e avançados, computadores mais e mais modernos, dinheiro para a balada, viagens...

Desde muito pequeno, antes e após o horário da escola, sempre tive muitas obrigações: esportes, artes, música, professores particulares – estes nunca faltaram, minha vida toda! Sim, porque meus pais nunca encontraram uma escola que os agradasse totalmente e, além disso, por toda a minha vida sempre houve um amiguinho que soubesse mais do que eu, que contasse até números mais altos do que eu, que lesse melhor, que tivesse uma letra mais bonita ou que fosse o máximo no futebol! Então, lá ia eu para me especializar – em tudo e mais um pouco! Meus pais sempre disseram que nessa vida competitiva, é preciso estar preparado mas... será que “em tudo” e de uma só vez? Deveria eu ser o melhor em “tudo”? Seria possível? Se era possível eu não sei mas, de qualquer modo, não consegui e por isso me sinto derrotado.

Nessa tal competição, aprendi que não importa de fato o que acontece. O importante é saber relatar os fatos do nosso jeito e nisso sempre fui muito bom! Apesar de ser sempre muito criticado em casa, perante os “de fora”, sempre tive razão em tudo! Isso era bastante confortável, já que para os olhares externos eu sempre fui uma criança perfeita! Bati muito em meus coleguinhas na escola, meus pais diziam que não sabiam mais o que fazer comigo – apesar de não fazerem nada, a não ser dar alguns pequenos “sermões” chatos e cansativos - entretanto, cresci com uma única brincadeira com meu pai: lutar, ser forte, vencer! Sempre ganhei dele nas lutas, nunca entendi porque entre meus amigos isso não era possível. Será que eles não brincavam assim em casa? Com o tempo, fui disfarçando esse meu comportamento e pouquíssimas vezes fui “pego” em flagrante. Era só usar aquela carinha de inocente que aprendi e pronto! Estava tudo certo!

Meus pais sempre quiseram o melhor para mim, eu sei. Idealizaram uma criança quando eu ainda estava na barriga da minha mãe. Fui desejado e bem-vindo, mas acho que jamais fui olhado como um ser humano com competências e fraquezas. Com habilidades e dificuldades. Com atitudes certas e outras absolutamente reprováveis. Então, é como se tivessem feito de mim um bonequinho perfeito com roupas, brinquedos, escolas caras, cursos de especialização, e tudo mais que pudesse ser mostrado e comparado com os outros. Embora o discurso fosse que eu era único, um orgulho e etc (deviam ser palavras do terapeuta), na prática sempre fui comparado e quase sempre julgado como aquém do ideal.

Hoje me vejo perdido, não confio em ninguém, não tenho amigos, muito menos vontade de ir adiante. Faço pose de bonitão, inteligente, seguro e divertido. Às vezes, só para me divertir, assumo a personalidade do “revoltado” e deixo todo mundo desesperado – isso me diverte. Sei que sou incompetente, jamais serei o Doutor que meus pais sonharam e, mesmo que seja, jamais serei competente como meu pai. Aprendi a ter uma vida superficial, em todos os sentidos!

Estou cansado e infeliz...

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